A Belle Epoque da novela "Lado a Lado"

setembro 16, 2012

Estreou no dia 10 de Setembro de 2012, a novela Lado a Lado escrita por João Ximenes Braga e Cláudia Lage. A novela se passa no início do século XX, a chamada "Belle Epoque", no Rio de Janeiro, que em 1904, o ano que começa a trama, era a capital do Brasil.
Mas o que é "Belle Epoque"? Vamos viajar no tempo e voltar para essa época de otimismo, inovações e muita elegância.


Belle Epoque é o termo para designar o período de 1871 a 1914, quando começou a 1ª Guerra Mundial. Essa época é marcada por grandes inovações como a chegada da energia elétrica ao Brasil, surgia o automóvel, telefone, cinema, avião e os primeiros eletrodomésticos. 
Paris era a capital do mundo e ditava a moda, o estilo de vida e de comportamento, aqui no Brasil tudo se baseava na elegância e sofisticação francesa.
O movimento britânico Arts & Crafts defendia o artesanal, a forma e função, ou seja o objeto além de ser criado para sua função, também deveria ser belo. Juntamente com o Arts & Crafts, os cartazes de Alphonse Mucha propiciaram o surgimento da filosofia de vida e do estilo Art Nouveau, que foi a marca registrada de Belle Epoque, foi um design que transmitia o otimismo das pessoas com a expectativa que o século XX, pudesse ser positivo.


Em 1904, era assim que estava a Avenida Central no Rio de Janeiro, era um grande canteiro de obras, era um remodelagem para tornar a cidade mais moderna como o novo século exigia. Começaram à surgir cafeterias, bristôs e teatros como os que existiam em Paris.
Em 1899, já existia energia elétrica em São Paulo, que fora implantado pela Light, no Rio de Janeiro, a eletricidade só chegou em 1905, também através do grupo Light.

Em 1891, Santos Dumont, o inventor do avião, é o pioneiro ao trazer o primeiro automóvel com motor à explosão ao Brasil. Foi um carro da marca francesa Peugeot como o da imagem acima, a curiosidade é que ele comprou o automóvel, para estudar o motor e não para ficar circulando por aí.
Em 1904, em São Paulo, só haviam 6 automóveis cujos os proprietários eram milionários muito abastados, como não sabiam dirigir, geralmente o carro vinham com um motorista estrangeiro que podia ser francês ou inglês.
Como não haviam postos de gasolina no Brasil naquela época, os proprietários dos carros, abasteciam com benzina que era facilmente encontradas nas farmácias e boticas.


O primeiro carro a transitar pelas ruas do Rio de Janeiro em 1900, foi um Decauville, com motor de 2 cilindros e um volante que parecia um guidão de bicicleta. O proprietário era Armando Guerra Duval, um estudante de engenharia.

O Malho era uma revista que trazia as últimas notícias e também fazia um crítica à política do pais através das caricaturas. Também trazia anúncios comerciais, passatempos e valsinhas para se tocar no piano. Veja abaixo.





O personagem Zé Maria (Lázaro Ramos) é capoeirista, mas nessa época, a capoeira era considerada crime por causa dos "maltas", que eram bandidos e usavam a arte da capoeira para cometer assassinatos por encomenda, assaltos e outros crimes. Alguns matavam utilizando navalha nos pés, conhecida como "navalha voadora" ou usavam bengalas como arma. Eles aterrorizavam a cidade carioca no início do século.





O ART NOUVEAU NA BELLE EPOQUE





Em 1895, o ilustrador Alphonse Maria Mucha revoluciona o design gráfico criando o cartaz para peça teatral Gismonda com a legendária atriz Sarah Bernardt.
O cartazes de Alphonse deu início ao Art Nouveau ( Arte Nova em francês) cuja a característica é o amplo uso das formas orgânicas existentes na natureza, é muito comum nesse estilo, vermos ramos, galhos, aves, animais, flores, esfinges femininas e insetos, geralmente eram aplicados de forma assimétrica combinados com elementos neo-clássicos. O estilo inspirou artistas, arquitetos e designers que aplicaram as elegantes formas sinuosas e curvilíneas em seus projetos, criando a face do novo século que estava surgindo.

Na arquitetura, o Art Nouveau tirou a sisudez do estilo neo-gótico da época vitoriana, e também trouxe o ferro e vidro que eram materiais industriais para aplicação em grades, janelas, móveis.
Veja abaixo, mais alguns exemplos da arquitetura do Art Nouveau:



















Mas no Art Nouveau, não houve um arquiteto tão inovador quanto Antoni Gaudi, em 1904, começa a reforma da Casa Batllo, um verdadeiro marco para época. Veja abaixo algumas inspirações para a arquitetura da casa:


Os arcos das janelas foram inspiradas na asa de morcego e as colunas tiveram inspiração no osso do fêmur, o que deu a casa Batlló, o apelido de "casa dos ossos".

O telhado dá casa remete à pele de um lagarto, as chaminés foram concebidas para lembrarem cogumelos e o telhado da torre foi inspirado em uma cebola.

Os balcões da casa são peças inteiriças de ferro e foram inspiradas nos ossos do crânio humano.





Na Belle Epoque, um dos símbolos de status, era ter um belo gradil de ferro em sua casa, de preferência em estilo europeu, na forma de portão, grade de sacada, porta ou biombo. Os portões e gradis franceses eram copiados e integrados à paisagem urbana carioca, veja abaixo alguns deles:







No interior das casas, os móveis inusitados com as curvas elegantes do estilo Art Nouveau, também começavam a surgir, eram de madeiras, mas também podia ser ver alguns de ferro. Na casa da Belle Epoque, ter uma cristaleira, um belo espelho sobre um console, eram itens obrigatórios na decoração. Veja abaixo alguns exemplos:

















Com a chegada da energia elétrica, surgiram as primeiras luminárias com visual rebuscado e sofisticado, como pedia o estilo Art Nouveau, veja alguns exemplos abaixo:









Também a com o surgimento da eletricidade, foram lançados os primeiros eletrodomésticos da história da humanidade como esses abaixo:

Aspirador de Pó

Ferro elétrico

Ventiladores

Torradeira


Na moda, também se seguia tudo que se usava em Paris, aqui no Brasil, era muito comum ver mulheres usando veludo alemão e os homens usando casacas de casimira e lã inglesa em pleno verão carioca. Aqui no Brasil, as rendas eram bastante usadas em vestidos e sombrinhas, dos tipos como: chantilly, renascença e richellieu.


Imagens: Divulgação/Rede Globo

A Belle Epoque exigia que a silhueta feminina se parecesse com S, dando ênfase a cintura e o colo. Os espartilhos comprimia as costelas inferiores e orgãos internos, era muito comum ver senhoras e senhoritas desmaiando após as refeições. O espartilho ampulheta que foi usado nessa época, era a última moda de Paris, pois projetavam os seios para frente e o bumbum para trás.



Falando sobre os padrões de beleza da Belle Epoque, não poderia deixar de falar sobre as Gibson Girls, as primeiras pin-ups da história, elas foram criadas pelo ilustrador Charles Dana Gibson, eram desenhadas com bico de penas e representavam o ideal feminino para época. Eram mulheres belas com corpos esculturais, atitude arrogante e sensual, o qual os homens se atiram aos pés, também eram bem emancipadas, algo que a sociedade da época achava indecente. As imagens das Gibson Girls eram vistas pregadas em cafeterias, tabacarias e bares, às vezes aplicadas em almofadas, pratos e canecas.







A Gibson Girl mais famosa, foi a atriz americana Camille Clifford, ela tinha a silhueta que todos os homens desejavam para uma mulher, com peito de pomba e cinturinha de vespa. Como podemos ver abaixo:




Um padrão de beleza feminina na Belle Epóque foi a bailarina francesa Cléo de Merode, uma estrela internacional nesse época. O rei da Bélgica, Leopold II ficou encantado com a sua beleza, e logo surgiram rumores de que ela seria amante do rei, Cléo sofreu muito com isso. O pintor Gustavo Klimt à transformou em sua musa inspiradora, a personagem Lea de Castro criada por ele, foi inspirado na bailarina.





Aqui no Brasil, as revistas de moda vinham da Europa, algumas vinham com moldes, eram chamadas de figurino. Da moda na época, as mulheres usavam vestidos que deveriam arrastar pelo chão, chapéus com grandes abas e decorado com muitos adereços. Quantos aos penteados, as mulheres mais jovens usavam o cabelo solto, geralmente com cachos feitos com babyliss, que eram aquecidos na brasa, as mulheres casadas prendiam o cabelo com um coque afofado no alto da cabeça, usavam uma almofada de crina de cavalo para dar mais volume ao penteado. O calçado geralmente era uma botinha ou ankle boot, com salto e abaulado no calcanhar.
Os homens usavam casacas ou fraques, chapéu coco ou cartola. Bigodes e cavanhaques eram muito usados e representava masculinidade, quanto mais farto o bigode, mais respeito se tinha.Veja abaixo as imagens do que era moda na Belle Epoque:













Falando em moda, não poderia deixar de falar sobre Charles Frederick Worth, considerado o "pai da moda e da alta costura". Worth foi o precursor da universo fashion, ele criou os desfiles de moda com passarela, é considerado o primeiro estilista internacional. Veja abaixo algumas de suas criações.




O assistente de Worth, Paul Poiret funda sua casa de moda, escandaliza a sociedade, encurtando a barra do vestuário feminino na altura do tornozelo.





Na novela Lado a Lado, com certeza, a personagem Constância (Patrícia Pillar) iria usar as joias criadas por René Lalique. Ele era mestre em trabalhar com cristais, metais, esmalte, criava desde joalheria até luminárias e lustres para casa. Suas criações são inconfundíveis, com libélulas, aves, flores e criaturas mitológicas.











Na Belle Epoque, já existia a Coca-Cola, que nos anúncios da época era vendido como uma bebida carbonada e refrescante que sustentava e combatia a fadiga.







Dicas de filmes para assistir sobre a Belle Epoque:

Sedução (Belle Epoque, 1992) - Com muita sensualidade, esta é a história de Fernando (Jorge Sanz), um jovem anarquista que ao desertar do exército monarquista foge para o interior do país. Vagando pelo campo sem destino, acaba encontrando Manolo (Fernando Fernán Gómez), outro anarquista que se identifica com suas idéias e lhe dá abrigo. A súbita maré de sorte de Fernando ainda não acabou. Ao contrário, está apenas começando. É que Manolo é pais de quatro mulheres maravilhosas. E as irmãs, sedentas de amor e cada uma à sua maneira, vão usar de todo seu charme para conquistar o "inocente" visitante. Difícil vai ser controlar o desejo e escolher apenas uma delas para amar.


1900 (Novecento, 1976) - O filme faz uma retrospectiva histórica da Itália desde o início do século 20 até o fim da Segunda Guerra Mundial, focando as vidas de duas pessoas: Olmo (Gérard Depardieu), filho bastardo de camponeses, e Alfredo (Robert De Niro), herdeiro de uma rica família de latifundiários. Apesar da amizade desde a infância, a origem social fala mais alto e os coloca em pólos política e ideologicamente antagônicos. O pano de fundo é o intenso cenário político da época, com o fortalecimento do fascismo e, em oposição, as lutas trabalhistas ligadas ao socialismo.



My Fair Lady (1964) - Audrey Hepburn nunca esteve tão maravilhosa quanto neste show musical de tirar o fôlego, que ganhou 8 Oscar® da Academia em 1964, incluindo Melhor Filme*. Nesta adorável adaptação do sucesso da Broadway, Hepburn interpreta uma espevitada vendedora de rua em Londres, a qual um arrogante professor (Rex Harrison) tenta transformar em uma dama sofisticada, depois de um rigoroso treinamento. Mas, quando a humilde florista conquista a elite londrina, seu professor vai aprender mais do que uma lição. A atuação de Hepburn, com seu estilo doce e espirituoso fez de My Fair Lady um clássico de todos os tempos.




Retorno à Howards End (Howard End, 1992) - Na Inglaterra no início do século XX, Howard's End, uma bela casa de campo de uma tradicional família, é deixada pela matriarca (Vanessa Redgrave) como herança para uma mulher culta e emancipada (Emma Thompson) para os padrões da época. Mas os filhos da falecida escondem este fato, considerado um capricho da mãe, e a beneficiária nada sabe. Mas, ironicamente, ela volta a se aproximar da família quando o viúvo (Anthony Hopkins) lhe propõe casamento.







Uma Janela para o Amor (A Room with a View, 1985) - Lucy Honeychurch, uma jovem inglesa, fez sua primeira visita à Florença no começo do século XX. Lá, ela conhece um velho advogado, Emerson, e seu filho, um excêntrico rapaz chamado George. Nasce um grande amor entre Lucy e George, mas ao retornar para a Inglaterra, Lucy terá que decidir se continua com o noivado com Cecil, ou segue o coração e sua crescente atração por George.





Alô, Dolly! (Hello Dolly, 1969) - Em 1890, em Nova York, uma conhecida viúva casamenteira faz uma viagem para fazer com que um rico comerciante se interesse por sua chapeleira. Ao encontrá-lo ele lhe pede que ela consiga afastar sua sobrinha de um artista, apesar dos dois estarem apaixonados. A viúva decide manter os dois juntos e como sua chapeleira não se interessou pelo bom partido ela decide conquistá-lo para si mesma.

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7 Comments

  1. Post deliciosamente imenso! Adoro a Art Nouveau! Não conhecia tão bem a Belle Epoque. Depois darei uma bisbilhotada nessa novela, minha avó disse que é ótima! rs
    Primeira vez que passo pelo blog e já curtir.
    Abraços!

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  2. Este periodo e um dos meus periodos favoritos, em tudo e explica muito a origem e historia de coisas atuais. Uma sugestao, na lista de filmes nao se pode esquecer do premiado este ano "Downton Abbey" que trata exatamente das mudancas de costumes e da posicao na sociedade da mulher, relacao empregados domesticos e patroes, desenvolvimento da medicina sanitarista, etc no inicio do seculo XX, no caso na Inglaterra.O seriado ainda nao terminou mas ja chegou na primeira guerra o que e um grande marco causando bruscas mudancas no inicio do sec.
    E imperdivel como obra.

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  3. Até as propagandas da famosa Coca-cola, esnobava puro luxo e luxo até hoje.

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  4. Olá! Agradeço por esse post, esta ajudando muito em minha pesquisa, tanto que quis ver a novela novamente (acho que não tinha visto tudo). Obrigada!

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  5. Sério, olha para essas fotos e diz que não lembra Castelo-Ratim-bum!

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  6. Olá.
    Sou professor de História e trabalhei Belle Époque no segundo bimestre com meus alunos. Aprendi um pouco mais com as informações de seu blog principalmente quanto aos penteados do período. Tipo, “mulheres casadas prendiam o cabelo com um coque afofado no alto da cabeça, enquanto as mais jovens usavam o cabelo solto”. Isso vai muito de encontro com os vestuário das evangélicas de igrejas que ainda adotam este costume, bem notório no período chamado pentecostalismo histórico datado do início do século XX (Assembléia de Deus e Congregação Cristã no Brasil). Talvez muitas delas usam tais paramentos e nem sabem a origem de tais comportamentos. Quanto aos penteados e vestuários, como posso pesquisar mais a respeito? Há um pouco de influência vitoriana e eduardiana respetivamente? Segue meu e-mail caso queira manter contato: dip_hannemann@yahoo.com.br Abraços.

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João Lima Jr. - Designer, ilustrador, webwriter,sonhador nato,uma pessoa agridoce com imaginação fértil que adora artes, café, cinema, música lounge, fotografia e coisas retrô.

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